domingo, 30 de novembro de 2008

MEDINDO O SEU DESEMPENHO

Acredito que grande parte dos investidores que se aventuram no mercado de ações não adota parâmetros de apuração de sua performance, a não ser por eventuais conferidas no extrato da corretora quando o mercado está em alta - na baixa a maioria prefere nem ver... Como em tudo na vida, esse comodismo costuma custar caro porque impede o investidor de visualizar com clareza os pontos falhos em sua metodologia, os buracos-negros que contribuem impiedosamente para a destruição de seu precioso capital. Para piorar, a memória dos investidores costuma ser dotada de um curioso mecanismo seletivo: sempre nos lembramos dos pequenos e , sobretudo, dos grandes ganhos, mas tendemos a esquecer rapidamente as pequenas e grandes perdas. Mas objetivamente, quantos sabem dizer qual o percentual de trades que resultam em ganhos? Qual é o tamanho médio dos ganhos? E das perdas? Quantos reais são ganhos para cada real perdido?

Quem quer operar com seriedade não pode prescindir de um registro detalhado de todos os trades realizados, pois é ele que fornecerá os dados para a análise de performance. Este registro pode ser facilmente montado e automatizado em uma planilha eletrônica e deve conter no mínimo as seguinte informações: papel negociado, preço de entrada, data da entrada, corretagem de entrada, preço de saída, data de saída, corretagem de saída e lucro/prejuízo da operação. A partir daí é possível montar uma série de indicadores que, bem utilizados, vão ajudar o investidor a não apenas depurar o seu estilo de trading, ( foi assim que eu me convenci a abandonar completamente o swing trade, pois vi que eu tendia a perder dinheiro em operações de curto prazo e a ganhar nas de médio e longo prazo) mas também a testar o quanto novas abordagens podem incrementar ou reduzir o P/L agregado do portfólio.


O P/L líquido resultante dos lucros e prejuízos agregados de cada operação é, por razões óbvias, a medida que costuma interessar aos investidores, mas os indicadores de performance mais importantes são aqueles que permitem vislumbrar em primeiro lugar onde estão os geradores de lucro e prejuízo dentro de um portfólio de operações. Faz sentido, portanto, começar pelo cálculo dos seguintes indicadores relativos ao retorno sobre o capital:
  • Lucro Médio de cada operação, em quantia financeira (R$) e em % sobre o patrimônio alocado para cada operação que gerou lucro;
  • Prejuízo Médio de cada operação, em quantia financeira (R$) e em % sobre o patrimônio alocado para cada operação que gerou prejuízo;
Caso observe que o prejuízo médio é maior do que o lucro médio, saiba que isso é um sintoma de que você está esperando demais para encerrar as posições que deram errado e está realizando lucros rápido demais nas que deram certo, sem dar tempo para a posição lucrativa render tudo o que pode. É interessante calcular também os seguintes indicadores sobre transações:
  • % de operações que geram lucros, em relação ao total de operações feitas;
  • % de operações que geram prejuízos, em relação o total de operações feitas;
Não se assuste se descobrir que a maioria das suas operações gera prejuízo - mesmo excelentes traders costumam errar mais do que acertar - isso não é problema desde que o lucro médio seja superior ao prejuízo médio. Agora, é a partir destes dados que você vai calcular um importantíssimo indicador:

  • Índice de Impacto: (lucro financeiro médio/prejuízo financeiro médio) basicamente esse é o indicador vai lhe dizer quantos reais você ganha para cada real que você perde.
Quanto mais alto o Índice de Impacto, melhor, pois indica que você tem uma abordagem consistente no gerenciamento de riscos. Por outro lado, se o Índice de Impacto for inferior a um (1), pare de operar imediatamente e revise toda a sua metodologia, pois você está operando com uma expectativa negativa, i.e., no agregado você tende a perder mais dinheiro do que ganha. Por fim, não custa também calcular o seguinte:
  • % dos lucros oriundos dos 10% de operações mais lucrativas (p.ex. de você teve 40 operações com lucro, calcule quanto as 4 mais lucrativas contribuíram para o total de lucros);
  • % dos prejuízos oriundos dos 10% de operações com maior perda (p. ex. se você teve 30 operações com prejuízo, calcule quanto as 3 maiores perdas contribuíram para os prejuízos totais);
Você vai notar que os lucros tendem a se concentrar em poucas operações, um fenômeno estatístico que se deve à natureza não-linear dos movimentos de preços das ações (no meu caso, por exemplo, 78% de todo o lucro auferido nos últimos quatro anos tiveram origem nos 10% de operações mais lucrativas, o que é condizente com o perfil operacional de um trend follower). Por outro lado, se a maior parte dos prejuízos concentra-se em poucas operações, isso é indício de um gerenciamento de risco deficiente, que está deixando margem para a ocorrência de grandes prejuízos, os quais podem facilmente anular os poucos grandes ganhos e jogar rapidamente a evolução do P/L para o terreno negativo.

domingo, 23 de novembro de 2008

INDICADORES TÉCNICOS

O pressuposto fundamental da análise técnica é que os temores, as expectativas e o grau de informação de cada um dos milhares de agentes do mercado serão refletidos, coletivamente, no movimento dos preços e volumes negociados. E como a natureza humana comum a todos os agentes é sempre a mesma e invariável ao longo do tempo, é possível discernir padrões nos movimentos de preços e volumes, os quais indicam a tendência do mercado. Naturalmente, a plotagem dos movimentos de preços ao longo de uma escala de tempo é a maneira mais simples de mapear estes padrões e observar o surgimento e o desenvolvimento de tendências, mas a evolução da informática facilitou, ainda no final dos anos 60 e início dos anos 70, o emprego de inúmeras ferramentas estatísticas que recolhem as informações de preço e/ou volume e as transformam em indicadores que auxiliam o investidor a interpretar o que está acontecendo no mercado. (aos interessados nas origens da AT computadorizada, recomendo a leitura da excelente entrevista de Jack Schwager com Ed Seykota, um dos pioneiros na área, em Market Wizards.)

Não custa ressaltar que todos o indicadores técnicos são alimentados pelas informações básicas de preço e volume, as mesmas que se usa para a plotagem do gráfico de barras. Portanto não há nenhuma mágica metafísica por trás daquelas linhas coloridas que cruzam os monitores indicando pontos de compra e venda. São apenas instrumentos técnicos que tanto podem ajudar o investidor a atingir o objetivo de aumentar o seu capital, quando empregados com conhecimento de causa, como podem levá-lo à ruína quando empregados tresloucadamente, sem uma metodologia adequada. Os leitores que acompanham este blog já devem ter notado que não sou particularmente adepto do uso de indicadores. Embora já os tenha utilizado com mais freqüência no passado, hoje prefiro tomar decisões de entrada/permanência/saída com base apenas nos movimentos plotados no gráfico de barras, pois após alguns anos de experimentação descobri que para o meu estilo de trading, less is more. Quanto mais
simples mantenho as coisas, maiores os ganhos e menores os prejuízos.

Apesar de não usar indicadores para definir pontos de entrada e saída, continuo utilizando-os como ferramentas de interpretação do panorama de mercado, sobretudo em relação às tendências de longo prazo, visíveis com mais clareza nos gráficos semanais. Nesse sentido, o meu indicador favorito é o MACD (Moving Averages Convergence-Divergence). Criado nos anos 70 por Gerald Appel, até hoje fornece um dos mais seguros indicadores de reversão conhecidos em AT. Esse indicador tem como base três médias móveis exponen
ciais: de 26 períodos, de 12 períodos e de 9 períodos (esses são os padrões, mas podem ser variados desde que se mantenha aproximadamente a mesma proporção entre eles). A MM-12 é subtraída da MM-26 e a diferença entre elas é plotada como a "Linha MACD", - ou linha rápida. Depois calcula-se uma MM-9 da "Linha MACD" e plota-se o resultado como a "Linha de Sinal" - ou linha lenta.

Na sua interpretação mais básica, o indicador gera um sinal de compra sempre que a linha de Sinal cruza a MACD de baixo para cima; o sinal de venda é gerado quando a linha de Sinal cruza a MACD de cima para baixo. Agora, o que vale realmente a pena observar no MACD são as divergências, especialmente no gráfico semanal. Divergências ocorrem sempre que o indicador falha em acompanhar a tendência de preço: numa divergência de baixa, os preços fazem um novo pico, mas o indicador não acompanha esse pico; o inverso ocorre na divergência de alta, os preços fazem um novo fundo, mas o indicador não acompanha esse fundo. Quase sempre essas divergências são uma sinalização no sentido de ser iminente uma correção mais forte na tendência de alta ( ou de um repique mais forte, no caso de tendências de baixa) ou mesmo de uma reversão.

Podemos observar essa dinâmica em ação do gráfico semanal do IBOV, onde marquei três divergências: 1. A divergência de alta que se formou entre setembro/01 e outubro/02 e que marcou o início da última onda de alta em nosso mercado; 2. A divergência de baixa que se formou entre janeiro e maio de 2006 e que precedeu uma correção moderada dentro da tendência de alta; 3. A divergência que se formou entre outubro/07 e maio/08 e que sinalizou com bastante clareza a fortíssima correção pela qual estamos passando.

domingo, 16 de novembro de 2008

PENEIRANDO AS OPORTUNIDADES

Com mais de trezentas ações listadas para negociação na BOVESPA, é natural que a maior parte dos investidores concentre sua atenção naquelas dotadas de maior liquidez e que recebem uma cobertura mais ampla das corretoras e da mídia especializada. Pessoalmente, gosto de analisar os papéis de baixa e média capitalização, pois algumas das empresas pequenas e médias que emitem estes papéis fatalmente irão passar por períodos de crescimento acelerado e não raro o valor de suas ações acaba se multiplicando por fatores de 10X, 15X, 20X ou até mais do que isso.

Mas mesmo em situações adversas, com o mercado como u
m todo em tendência de baixa, é possível identificar ações com padrão neutro ou de alta inclusive dentre as componentes do IBOV e que podem ser uma boa opção de alocação de recursos, sobretudo para clubes de investimento que são obrigados a manter pelo menos 50% de seu patrimônio comprado. Esta a situação que se vê nos dois gráficos ao lado. No primeiro, nota-se que UGPA4 indicou uma reversão altista no gráfico semanal há duas semanas quando fechou acima do topo formado pelo repique corretivo. O único ponto negativo é a volatilidade alta do papel, o que acaba resultando em uma posição pequena, pois o stop-loss terá que ser posicionado longe do ponto de entrada. Neste aspecto, a situação de CRUZ3 - mostrada no segundo gráfico - é mais vantajosa, pois o papel acaba de romper uma linha de resistência importante e duradoura com volume em elevação. É um ótimo ponto de entrada para quem - como eu - gosta de comprar força em uma tendência de alta, pois permite posicionar o stop-loss logo abaixo da resistência rompida. Por falar em stop-loss, nunca é demais lembrar que aproveitar oportunidades de compra em papéis que apresentam um setup individual favorável no contexto de um mercado em baixa exige cuidado redobrado. Recomenda-se adotar uma postura o mais conservadora possível no que toca gerenciamento de risco, de preferência reduzindo-se o tomanha das posições em relação ao que se empregaria em circunstâncias favoráveis de mercado.


domingo, 9 de novembro de 2008

CEDO DEMAIS PARA COMPRAR?

O recente repique corretivo ocorrido no mercado brasileiro leva muitos investidores a questionar se não é o momento adequado para entrar comprando papéis de empresas sólidas mas que foram duramente atingidos pelas vendas iniciadas em maio/junho deste ano. Obviamente, o questionamento parte da premissa implícita de que a tendência de baixa já estaria esgotada e o mercado estaria agora começando a retomar sua tendência de alta de longo prazo. Observando-se o gráfico semanal do índice BOVESPA, vê-se que ele atingiu o objetivo de nossa projeção baixista, vindo buscar a área de suporte dada pela LTA que acompanha o atual ciclo de alta. A partir deste ponto observamos o repique corretivo que se desenvolveu nas duas últimas semanas.

Como sempre, a dúvida é saber se o repique pode ser tomado com uma sinalização de retomada ou se, ao contrário, novas quedas ainda aguardam os investidores. O discernimento entre estas duas possibilidadades exige uma análise objetiva do comportamento dos preços, que procure deixar de lado a ansiedade por puxar o gatilho nas comprar - a qual, no mais das vezes, apenas trai uma "torcida" inconsciente pela retomada. Nesta hora, costumo adotar critérios muito simples e objetivos: se o mercado está fazendo topos e fundos mais altos, temos uma tendência de alta e é hora de entrar comprando; se está fazendo topos e fundos mais baixos, temos uma tendência de queda e é hora de vender e aguardar a reversão. Até agora não conheci ningém que tenha me apresentado critérios mais sólidos do que estes para orientar um discernimento quanto às tendências de mercado.

As sinalizações mais confiáveis são aquelas do gráfico semanal, por isso eu as utilizo para conferir a tendência de longo prazo. Observa-se no gráfico semanal do IBOV que ainda não está clara a formação de topos e fundos mais elevados após o início da atual correção, motivo pelo qual recomenda-se muito cautela aos potenciais compradores. No gráfico diário - que infelizmente nos dá sinalizações de probabilidade menos confiável - a situação é um pouco mais clara, pois vê-se que já se formou um novo topo e um novo fundo mais alto do que o anterior de 29.000 pts. Uma eventual superação do topo de 41.000 pts pode confirmar um repique corretivo de maior intensidade, mas aqueles que desejarem aproveitar-se dele devem lembrar de operar com um stop-loss cuidadosamente posicionado e um trailing stop curto para evitar serem pegos em um renovado movimento de baixa, pois - como afirmei no post da semana passada - o mais importante não é o ponto de entrada, mas o ponto de saída de cada operação.

domingo, 2 de novembro de 2008

PONTO DE SAÍDA

Praticamente todos os investidores não profissionais preocupam-se quase obsessivamente com o ponto de entrada em suas operações, aflitos em não perder um movimento favorável ou deixar de comprar um papel "barato". Mas são poucos os que se dão conta de um detalhe vital: mais importante do que definir o ponto de entrada é definir o ponto de saída em cada operação. A razão é bastante óbvia e singela: não é o valor pago por um papel no momento da compra o que vai determinar o lucro ou prejuízo de uma operação, mas o valor pelo qual ele será vendido. É esta constatação o elemento que está por tráz da profunda verdade do adágio "Cut short your loses and ride your winners", que sempre considerei a regra número um no manual de sobrevivência de um especulador. Aprender a colocar um stop-loss para sair rapidamente de posições que revertem em prejuízo é a primeira habilidade que o investidor deve aprender, pois sua sobrevivência no mercado depende em grande medida de sua capacidade de conter prejuízos enquanto eles são ainda pequenos.

Sobreviver é uma coisa, progredir é outra. Poucas experiências são mais frustrantes do que ver uma posição que começa a se movimentar a seu favor, de repente reverter e começar a gerar prejuízo. Na maioria dos casos, isso acontece porque o investidor não fez um planejamento cuidadoso do seu ponto de saída. As metodologias empregadas para esse fim são variadas. Pode-se utilizar canais de tendência, como no primeiro gráfico, vendendo-se o papel quando os preços se aproximam da linha superior do canal. Técnica semelhante empregam aqueles que ao invés de canais de tendência preferem utilizar bandas - simples ou de bollinger - vendendo sempre que os preços alcançam ou ultrapassam a banda superior em uma tendência de alta (segundo gráfico). Uma terceira possibilidade - essa inclusive está entre as minhas favoritas - é a utilização de algum mecanismo de trailing stop, que vai subindo automaticamente o valor do ponto de saída conforme a tendência progride, como o sistema parabólico do terceiro gráfico. Observando-se os gráficos é possível entender o porquê da importância que se atribui ao planejamento do ponto de saída: pense só quantos prejuízos não teriam sido evitados na atual baixa por aqueles que compraram Petro, Vale e Gerdau próximo do pico e estão hoje amargurando perdas variando de 40% a 60% só porque não souberam planejar uma saída?